A Oakley é reconhecidamente um dos ícones de modernidade, inovação e tecnologia. Como foi o início dessa história?
A Oakley está completando internacionalmente 30 anos. Fundada na Califórnia em 1975, iniciou suas atividades fabricando um produto desenvolvido por Jim Jannard, atual Presidente-Executivo do grupo. As manoplas de motos produzidas buscavam basicamente responder à necessidade de uma aderência perfeita e logo caíram no gosto do consumidor. Foi o início de uma das maiores características da Oakley: buscar soluções não convencionais e tecnologicamente capacitadas para o ser humano. A seguir, veio a oportunidade de trabalhar com óculos solares, que logo se tornaram o ícone da empresa e construíram uma história de sucesso.
E hoje, quais são as características que regem o desenvolvimento de um produto Oakley?
Todos os nossos produtos têm uma relação muito forte entre o design e a tecnologia. Temos um forte apelo imagético e somos inovadores nas formas de utilização. Nesse sentido é buscada sempre uma roupagem diferenciada e atrativa para cada produto. Por trás disso existe sempre uma alma muito forte de tecnologia envolvida, buscando compreender o que há de mais recente no mercado e se posicionando à frente dos lançamentos de tendências.
A moda vem agregando temas como o comportamento e estilo de vida, e a Oakley é um dos maiores cases dessa relação. Quando é que vocês perceberam a relação do seu produto com o segmento da moda?
Até cinco ou seis anos atrás a Oakley só produzia a linha de óculos solares, e tomou-se então uma decisão estratégica de entrar firme em outros segmentos. Hoje participamos com liderança em sete grandes mercados: óculos solares, óculos de grau (lentes oftalmológicas e sob prescrição), calçados, confecção, relógios, acessórios (mochilas, malas, carteiras, cintos, artefatos de couro, nylon, etc...) e agora estamos agregando nossa sétima linha: a de produtos com características eletrônicas. Essa última é composta, por exemplo, por óculos com MP3 ou minicelulares, todos utilizando tecnologia wireless (sem fio).
Tecnologia, imagem e inovação. Qual a receita para a criação e desenvolvimento de produtos com essas características?
Foge ao modelo convencional utilizado nas empresas. Nosso Departamento de Criação é autônomo e independente das áreas de Marketing e Vendas, ou que estão diretamente ligados ao consumidor. Dessa forma, não sofremos influências das necessidades de mercado e conseguimos criar tendências, através de nossos produtos, e não seguir tendências. Por isso, os produtos da Oakley são considerados inovadores até demais. E na grande maioria dos casos, esses produtos vão passando a ser o que o consumidor quer.
Existe algum exemplo prático?
Os primeiros óculos criados pela Oakley traziam uma curvatura elevada que protegia melhor a curvatura cranial. Num primeiro momento foram um choque, pois não existiam produtos similares. No entanto, aos poucos passaram a ser a regra e o que existe de mais moderno, sendo hoje um dos principais produtos da marca. Agora a história se repete, estamos lançando óculos com MP3 e óculos com celulares embutidos na haste. Para essa última desenvolvemos uma parceria com uma empresa líder: a Motorola.
A moda brasileira vem passando por constantes mudanças, se aperfeiçoando. Qual é a visão de uma empresa que está presente em todo o mundo sobre o mercado brasileiro?
A Oakley acredita e investe no potencial brasileiro. Exemplo disso é que a Oakley Brasil é a única subsidiária no mundo que tem sua produção de confecção no próprio país. Isso denota um respeito muito grande porque em todas as outras filiais e países onde a Oakley opera os produtos são adquiridos de fábricas centralizadas.
Nesse caso, a criação também é feita no Brasil? Temos que lembrar que o design brasileiro tem ganhado diferencial e destaque no mercado internacional.
Preciso salientar que a Oakley Brasil é bem jovem. Estamos trabalhando aqui há dois anos e meio. Seguimos a criação de nossa matriz, até mesmo como estratégia comercial e de produto, afinal podemos oferecer ao consumidor brasileiro o mesmo produto que está sendo oferecido em Milão, Nova Yorque, Londres. Além disso, temos uma estratégia de distribuição globalizada, mas ao mesmo tempo centralizada para que não tenhamos em breve produtos diversos e sem uma identidade.
Mas existem características e peculiaridades como clima, cultura que são regionais. Como vocês lidam com essas situações?
A princípio adaptamos especificações técnicas, como tipo de tecidos para países mais quentes, naturais não tão sintéticos para o hemisfério norte, espessura de jeans, moletons, materiais utilizados em camisetas, camisas e pólo. Essas especificações nós adaptamos à realidade brasileira, mas a estampa, modelo, essas características são padronizadas para o mundo inteiro.
Quais as dificuldades que vocês encontraram para se posicionar no mercado brasileiro?
A dificuldade inicial no Brasil, e que aos poucos, estamos conseguindo reverter, é o conhecimento do consumidor, de que a Oakley é uma empresa de óculos solares. Somos bem mais que isso. Somos líderes nesse mercado, mas também lideramos outros mercados. O desafio inicial foi mostrar que a Oakley é confecção, é relógios, é calçados. Para se ter uma idéia de percentuais de faturamento, saímos de uma situação onde a confecção era praticamente nula, e todo o faturamento vinha do segmento de óculos solares. Hoje a confecção já atinge 25% do faturamento. Sobre todos os outros produtos e segmentos, essa já é uma parcela interessante e a previsão de crescimento é muito grande.
Exportação está inclusa nesse crescimento?
Nós recém iniciamos um trabalho de exportação para os países do Mercosul e outros da América do Sul como o Chile, Venezuela, Peru e Equador. O plano é para que daqui á uns três anos a exportação represente um mínimo de 30% das peças produzidas.
Atualmente, competitividade e apoio governamental são algumas das principais temáticas dos empresários quando debatem como se manter e desenvolver no mercado. Como são esses temas para a Oakley?
O Brasil está, cada vez mais, inserido num mercado globalizado, e está se adaptando rapidamente a essas regras. É preciso ainda facilitar os trâmites burocráticos, operacionais e portuários. Ter situações mais ágeis para que as empresas possam competir de igual para igual com outros países onde esses processos são mais dinâmicos. Por outro lado, a carga tributária brasileira é bastante alta e muitas vezes impacta de forma negativa em termos de concorrência com outros países. É preciso que o governo busque uma legislação que entenda melhor as necessidades das empresas e facilite as condições de desenvolvimento, permitindo e objetivando um crescimento que refletirá em mais contratações. Mas somos bastante otimistas e acreditamos que haja uma tendência de melhoria.
Quais são as principais características que um profissional deve ter para trabalhar no mercado da moda?
Estamos compreendendo que a moda abarca o negócio como um todo e não só a arte. Ela continua existindo, mas os focos mudam. É preciso ter solidez, conhecer melhor o mercado e estar preparado para abarcar oportunidades.
E como isso se reflete na Oakley? Como é o desafio de encontrar as pessoas certas.
Hoje temos aproximadamente 70 funcionários registrados, sem contar nos empregos indiretos que também geramos através de empresas terceirizadas. O perfil do funcionário que buscamos tem, basicamente, duas grandes características: ser tecnicamente bastante habilitado e preencher a necessidade do cargo de forma eficiente. A pessoa da Oakley precisa de um conhecimento técnico muito grande afinal temos que apresentar resultados. Por outro lado, é preciso um perfil bastante sintonizado com o que é a Oakley: uma empresa jovem, moderna e de atitude. Para isso buscamos pessoas que não tenham receio de tomar decisões, atitudes ou criar tendências. Esse perfil pessoal e comportamental é levado em conta quando é feito um recrutamento.
Mas além da contratação, manter o profissional motivado, atualizado é um dos grandes desafios do mercado. Quais as estratégias adotadas pela Oakley.
Isso acontece de várias formas. Primeiro temos uma estrutura organizacional bastante achatada, ou seja, não temos infinidades de cargos e escalões, o que leva grande parte das pessoas a desenvolverem funções estratégicas. Em função disso, eles são conduzidos a conhecer as estratégias que estarão sendo trabalhadas tanto no curto prazo como daqui á seis meses, um ou dois anos, sendo obrigados a terem uma visão ampla do negócio. Participando ativamente dos planos de longo prazo pode-se ter uma visão clara do que estamos fazendo hoje e de onde queremos chegar amanhã.
Outra questão importante é o freqüente contato que temos com nossa matriz. As pessoas falam diariamente com os especialistas de produto e de tendência da matriz, fazem viagens para saber o que está acontecendo, acompanham feiras tanto aqui como nos Estados Unidos e dessa forma se colocam melhor informados da realidade do setor.Por fim, buscamos motivar e auxiliar a participação em cursos. Temos uma visão bem clara de que é preciso investir e de que o que foi feito até hoje não, necessariamente, será suficiente para se manter na liderança amanhã.
E quais são os próximos passos da Oakley no Brasil?
Temos uma série de estratégias no intuito de impulsionar a atividade no Brasil. Na parte de confecção, pretendemos consolidar a produção local desenvolvendo parcerias, fábricas terceirizadas e cada vez mais especializadas na área em que atuamos. Também pretendemos ampliar nossa rede de produtos. Para o próximo verão, por exemplo, estamos lançando uma linha de maiôs que também será ponto de exportação. Esse é um passo no sentido de melhor abarcar essa linha feminina que tem nuances mais complexos, segmentos peculiares e diferenciais que demandam maior atenção e precisam de um monitoramento mais intenso. Também estamos investindo para o próximo verão no lançamento de uma linha teen (abarcando uma faixa etária que vai dos 10 aos 16 anos).
Como é o perfil do consumidor e que ações têm sido desenvolvidas no sentido de melhor se relacionar com ele? Estamos sempre buscando agregar valores, criar produtos com alta tecnologia e maior durabilidade, além da ter a maior finalidade de utilização possível. Nesse sentido buscamos um mercado onde o preço não seja o fator decisivo da compra. Estamos buscando sempre os preços mais adequados para o valor dos nossos produtos.Também temos uma preocupação grande em estar em pontos de venda que traduzam a imagem de tecnologia e inovação, que são tendências da marca. Nesse sentido acabamos participando em pontos de venda mais exclusivos e de qualidade referencial, onde podemos ter uma exposição adequada e agregar valor.
Essa imagem e identidade que a Oakley tem hoje foi bastante fortalecida pelas campanhas, sempre relacionadas com os esportes.
Temos um tripé muito forte dentro da mídia, buscando estar sempre nas melhores mídias impressas, televisivas e radiofônicas. Essa relação com atletas já é bem antiga, afinal é onde se encontram as condições mais rigorosas e onde a qualidade e adequação do produto são primordiais ao bom desempenho. Além disso, a escolha e utilização do produto por esportistas em ação agrega confiabilidade à marca. Nossa intenção, nesse sentido, é conduzir essa imagem para um patamar maior que é a criação de um estilo de vida natural, saudável, o estilo Oakley. Para finalizar, percebemos que existem algumas palavras-chave para se falar do produto Oakley como função, estilo e criatividade. Como são disseminados esses valores dentro da empresa?
As empresas só alcançam o sucesso se deixam bem claros seus valores e objetivos. Na Oakley, toda a estrutura está voltada à criação de produtos que resolvam as necessidades humanas e envolvam essa função em arte. O produto deve resolver tecnologicamente uma necessidade humana, mas a aparência tem que ser fantástica. Com essas funções caminhando lado a lado é que a Oakley vem atingindo seu objetivo de desenvolvimento